"Ainda não me esgotei, ainda aqui estou, ainda não saí de ti, estou aqui, agora, com uma persistência velhaca, a contar-te histórias muito antigas como aquela que já não te recordas. A história da menina que pensava não saber amar, pois lhe tinham dito, na sua tenra idade, que o amor é coisa de graúdos, de idade adulta, a que nunca chegaria com o seu olhar infantil. O mesmo olhar que tratou com cuidado as pequenas coisas a que se foi dedicando na esperança de que um destes dias o amor lhe aparecesse sem avisar. E o amor não vinha nem dava sinais, não porque não pudesse aparecer mas porque já lá estava. Porque o amor não aparece, germina. E então um dia percebeu que o amor era aquilo, uma coisa muito simples, nada complicada, uma desilusão até em nada semelhante ao que ouvia dizer por aí. E então percebeu que sempre tinha amado, embora não soubesse. E que sempre tinha sido muito feliz sem gozar da plenitude dessa felicidade, porque pensava que havia uma outra, como versão melhorada da mesma coisa. O amor, de facto, nunca veio porque já tinha nascido, com ela, sem que disso se desse conta.
O amor não é palpável nem voa nos céus em formatos cilíndricos mas vê-se nos quadros, no cinema, no abraço quente tão apertado como os outros e sem espaço para nenhum outro."
in "No dia que fugimos tu não estavas em casa", página 20, Fernando Alvim
Já me tinha esquecido que queria ler esse livro. Obrigada pela lembrança e quick preview.
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